
Por Tiago Alves, Cofundador da Solar Americas.
O mercado global de Power Purchase Agreements (PPAs) atingiu um novo patamar em 2024, com um aumento de 35% nas vendas de eletricidade gerada por fontes eólicas e solares para empresas. O volume de PPAs corporativos nas Américas quase igualou o total combinado das regiões EMEA (Europa, Oriente Médio e África) e Ásia-Pacífico, conforme apontam os dados do Financial Times. Além disso, um relatório da Wood Mackenzie destaca que o setor solar nos EUA quebrou recordes históricos no mesmo período, reforçando a tendência de eletrificação limpa impulsionada por contratos de longo prazo.
A publicação desses dados intensificou o debate sobre a matriz energética global, muitas vezes reduzido a uma disputa binária entre combustíveis fósseis e energias renováveis. No entanto, a realidade é mais complexa — e, felizmente, mais promissora. A transformação do setor energético não é impulsionada apenas por pressões políticas ou ambientais, mas, sobretudo, por um fator decisivo: a economia. Além disso, as renováveis não só se tornam cada vez mais competitivas, como também desempenham um papel fundamental na redução da pegada de carbono.
A eletricidade gerada a partir do sol e do vento já é, em muitos lugares do mundo, a opção mais barata. Entre essas fontes, a energia solar tem se destacado como a mais acessível, escalável e democrática. Seu custo de implantação despencou nos últimos anos, tornando-se uma solução viável tanto para grandes projetos de geração como para pequenos consumidores que desejam independência energética. Grandes empresas e investidores globais reconhecem isso e direcionam seus recursos para uma transição sustentável, não por ideologia, mas por racionalidade financeira.
A insistência em privilegiar combustíveis fósseis, por vezes justificada como estratégia de proteção de empregos ou segurança energética, ignora a dinâmica real do mercado. Dependência excessiva de fontes tradicionais perpetua riscos geopolíticos, instabilidade nos preços e vulnerabilidades que países mais resilientes buscam mitigar. Manter os combustíveis fósseis como parte do mix energético é uma realidade pragmática, mas negar a eficiência e competitividade das renováveis é uma miopia econômica.
Nesse contexto, o Brasil emerge como um protagonista bem-posicionado. Com uma das maiores incidências solares do planeta, o país tem um potencial inigualável para expandir sua capacidade fotovoltaica. A energia solar cresce em ritmo acelerado, trazendo consigo novos empregos, investimentos e a possibilidade de descentralização da geração elétrica. Isso significa mais autonomia para consumidores e menos pressão sobre a infraestrutura tradicional. Além disso, o Brasil conta com uma matriz energética diversificada e resiliente. O etanol, que há décadas se consolidou como alternativa viável ao petróleo, segue sendo uma opção estratégica, especialmente no setor de transportes. As hidrelétricas, apesar de desafios climáticos, continuam sendo a espinha dorsal do abastecimento elétrico nacional. A complementaridade entre essas fontes reforça a segurança energética do país e reduz sua vulnerabilidade a crises externas.
Ao contrário da dependência de combustíveis importados, a energia do sol fortalece a soberania energética e reduz a exposição a oscilações globais. Pequenas, médias e grandes empresas já estão apostando nesse modelo, e cada vez mais consumidores percebem as vantagens de gerar sua própria energia. A energia eólica, por sua vez, também se apresenta como peça-chave nesse cenário, principalmente no Nordeste, onde ventos constantes garantem eficiência e previsibilidade na geração elétrica.
A transição energética não precisa ser um campo de batalha ideológico. Ela é, acima de tudo, uma questão de lógica econômica e estratégica. Enquanto alguns insistem em mirar no retrovisor, o mercado segue o caminho natural da inovação, da eficiência e da competitividade. No final das contas, não é a política que decidirá o futuro da energia, mas a força inevitável da economia. Sem contar com a força inexorável que existe em nós em simplesmente se fazer o certo!
Tiago Alves é um profissional atuante nos setores de energia, investimento de impacto, deep-tech e empreendedorismo, ocupando cargos executivos, de fundador e em conselhos administrativos. É cofundador da Solar Americas Capital, uma empresa que projeta, investe, constrói, opera e adquire ativos solares e visa consolidar um portfólio de ativos solares, por meio de estruturas de capital eficientes em uma nova estrutura comercial inclusiva para clientes.
Link para a notícia – O Futuro da Energia: Resiliência, Economia e a Força das Renováveis – CanalEnergia